Há algum tempo, para muita gente, os debates eleitorais eram capazes não só de definir os votos dos indecisos como também poderiam promover viradas históricas. No entanto, a cada nova eleição elementos como marketing digital e redes sociais constroem outras autoridades de comunicação eleitoral.
Embora a televisão continue sendo um poderoso meio para alcançar eleitores, a atenção das pessoas está dividida entre muitas opções de informação, principalmente dentro dos aplicativos de mensagem e redes sociais, disponíveis na palma da mão através de um aparelho celular. Podemos sim arriscar em dizer que os debates têm menos peso, pois as condições são bem diferentes, hoje.
Em nossa sociedade, percebemos que a ênfase recai menos sobre a apresentação de propostas e o confronto de ideias e mais sobre a construção de narrativas e a performance dos candidatos que atacam uns aos outros, para tentar manobrar a opinião pública.

No atual contexto social, tudo se transforma em espetáculo e a vida social é mediada pela aparência e pelo consumo de experiências. A cadeirada desferida por José Luiz Datena em Pablo Marçal no debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, por exemplo, já entrou para o folclore político e nos leva para um problema muito maior: violência e o objetivo dos debates eleitorais.
A violência política está se tornando a regra, e não mais a exceção.
O Teatro e a estética
O debate eleitoral se torna um evento onde imperam a estética e a teatralidade: gestos, tom de voz e expressões faciais ganham destaque. Candidatos ensaiam frases de efeito e se preparam para “viradas” e “golpes de mestre” que serão transformados em memes e manchetes virais.
Há também o jogo combinado, onde candidatos fazem questionamentos acordados com antecedência e muitas vezes a estratégia é diminuir alguém na bancada.

No lugar de servirem como um espaço para a escolha consciente e informada do eleitor, muitas vezes, os debates se convertem em vitrines onde a política se confunde com entretenimento e onde o conteúdo é subjugado pelo estilo.
Quando a violência se torna um exemplo, também vira um recurso recorrente e corrói os alicerces da democracia de uma sociedade. A comunicação depreciativa e as críticas feitas por Pablo Marçal à Datena chegaram a tal ponto que que o jornalista e apresentador saiu do sério e ao vivo, teve um ato de violência em frente de milhões de pessoas, retumbando nas redes sociais até hoje.
Sociedade do Espetáculo
O conceito de Sociedade do Espetáculo foi formulado pelo filósofo e cineasta francês Guy Debord em 1967. “Sociedade do espetáculo” é uma crítica contundente à sociedade moderna, especialmente ao papel das imagens e da mídia na formação de percepções, valores e comportamentos sociais.

Para Debord, o espetáculo não é apenas um conjunto de imagens, mas uma relação social mediada por imagens e aparências.
Com a nova formação dos debates, as pessoas ficam presas a uma rede de imagens que constrói nelas uma percepção sobre a política e a campanha eleitoral, pouco focada no rumo das pessoas e calçada em ataques pessoais.
*Mariana Rocha: Formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É jornalista e consultora política.