Uma força-tarefa nacional formada por cerca de 1,4 mil agentes cumpre 315 mandados de busca e prisão em Mato Grosso do Sul e outros sete estados nesta quinta-feira (28), na Operação Carbono Oculto, que visa desarticular um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis com participação de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). O nome das empresas ainda não foram divulgados.
Segundo a Receita Federal, a organização criminosa movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024 por meio de 1 mil postos de combustíveis espalhados pelo país. A operação é coordenada pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo), por meio do Gaeco, e realizada simultaneamente em 54 cidades de MS, SP, PR, MT, GO, RJ, SC e ES.
Em Mato Grosso do Sul, os alvos incluem uma empresa em Dourados e sete em Iguatemi.
ESQUEMA BILIONÁRIO
A investigação revelou que os criminosos controlavam uma rede nacional de postos, distribuidoras e transportadoras que realizavam fraudes fiscais e adulteravam combustíveis. Em vários estabelecimentos, foram identificadas duas modalidades: Fraude quantitativa: consumidores pagavam por volumes de combustível menores do que o registrado nas bombas; e fraude qualitativa: combustível adulterado com metanol e outros produtos fora das especificações técnicas exigidas pela ANP.
Além disso, o grupo utilizava ameaças de morte contra donos de postos que se recusavam a integrar o esquema.
Um dos eixos centrais da operação era a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR), que, em vez de ser entregue aos destinatários corretos, era desviado e transportado com documentação falsa para adulterar combustíveis, ampliando os lucros da organização criminosa.
USO DE FINTECHS E FUNDOS DE INVESTIMENTO PARA OCULTAR PATRIMÔNIO
As investigações apontam que os valores ilícitos eram lavados por meio de fintechs e fundos de investimento para ocultar os reais beneficiários. Entre 2022 e 2023, foram identificados 10,9 mil depósitos em espécie, somando mais de R$ 61 milhões, movimentados de forma irregular para dificultar o rastreamento.
A Receita Federal identificou ao menos 40 fundos de investimentos multimercado e imobiliários, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pela organização. Por meio desses fundos, o grupo adquiriu: 4 usinas produtoras de álcool (e mais 2 em processo de aquisição); 1 terminal portuário; 1.600 caminhões para transporte de combustíveis; mais de 100 imóveis, incluindo seis fazendas avaliadas em R$ 31 milhões e uma residência de luxo em Trancoso/BA, comprada por R$ 13 milhões.
Esses fundos funcionavam como blindagem patrimonial, criando camadas de ocultação para dificultar o rastreamento de recursos, com indícios de que as administradoras sabiam da origem ilícita do dinheiro.
IMPACTO EM MS E PRÓXIMOS PASSOS
A Receita Federal já constituiu R$ 8,67 bilhões em créditos tributários federais contra empresas e pessoas físicas ligadas ao esquema. Em Mato Grosso do Sul, os alvos em Dourados e Iguatemi estão entre os principais pontos de atuação do grupo na região de fronteira.
A operação envolve o Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícias Civil e Militar, Receita Federal, Secretaria da Fazenda de SP, ANP, PGFN e GAECOs de vários estados.
O caso segue sob investigação, e novas prisões devem ocorrer nas próximas fases.









