A “choradeira” de prefeitos ao início de cada gestão não é retórica vazia: o histórico evidencia um problema estrutural, atrelado a limites fiscais rígidos, queda de repasses federais e escolhas orçamentárias que, muitas vezes, priorizam cargos políticos e folhas inchadas. O dilema central se mantém: como compatibilizar uma máquina pública pesada — especialmente nas despesas com pessoal — com receitas cada vez mais limitadas?
Além disso, é notável que as funções da máquina pública encarregadas de arrecadar foram sendo negligenciadas ao longo dos anos. Faltam concursos e contratações nas áreas de fiscalização tributária, sanitária, de obras e posturas, o que compromete a capacidade do município de gerar receita própria. Diversos imóveis permanecem irregularizados, sem pagamento de IPTU ou taxas, provocando frustração de receitas. São gargalos históricos e desleixos administrativos que contribuem diretamente para o desequilíbrio orçamentário — e que raramente são enfrentados com seriedade pelas sucessivas gestões.
É importante, porém, destacar que as despesas com pessoal não devem ser vistas apenas como gasto, mas como investimento. São esses servidores que mantêm a máquina pública funcionando e garantem o atendimento direto ao cidadão. Dentro dessa estrutura estão profissionais da educação, saúde, assistência social, segurança pública, obras, limpeza urbana, entre tantos outros setores essenciais. Sem esse investimento humano, não há prestação de serviço público digna — e é justamente nesse ponto que o equilíbrio fiscal precisa ser tratado com responsabilidade, sem desvalorizar quem faz o serviço acontecer.
A saída passa por controle rigoroso de gastos, investimentos em inteligência arrecadatória, atualização cadastral, regularização fundiária, e um planejamento fiscal estratégico que vá além do improviso. Enquanto isso não ocorrer, a alternância de governantes seguirá trazendo o som das mesmas lamentações — e o contribuinte continuará pagando a conta.
No entanto, essa visão muitas vezes simplifica uma realidade complexa, ignorando o papel estratégico dessas cargas no funcionamento da administração. Nos gestos anteriores, por exemplo, sempre que surgiam notícias sobre perdas de receita, alguns veículos de comunicação — como locutores de rádio — atribuíam a situação à falta de planejamento e má gestão, usando-a como justificativa para medidas imediatistas, como o corte generalizado de cargos comissionados. Essa abordagem, embora popular, tende a priorizar soluções superficiais em detrimento de políticas públicas sustentáveis e bem estruturadas.
A crítica aqui não é ao debate sobre eficiência e redução de custos, mas à forma simplificada e reativa como que costuma ser temporária, transformando cargos comissionados em bode expiatório para problemas muito mais profundos na gestão pública.